quarta-feira, 25 de março de 2009

Jornalista, só com diploma

Rafael Nobre

ARTIGO - A tarefa de reportar os fatos é o trabalho do jornalista, que se ramifica em outras funções com especificidades características. E para exercer este trabalho, o jornalista precisar estar munido de conhecimento e convicção daquilo que faz. Porém, isso não é tudo. É necessário ter um diploma comprovando que o indivíduo cursou a faculdade de comunicação social com habilitação em jornalismo e, portanto, está apto a trabalhar como jornalista profissional.

No meio do trabalho de jornalistas existem diversos profissionais que não são necessariamente da área de comunicação, mas se intitulam como tal. É o caso de pessoas com ideais ousados – e gananciosos – conhecidas popularmente como políticos. Estas pessoas utilizam a miséria das camadas menos favorecidas da sociedade para pleitear cargos eletivos, com representatividade e salários igualmente amplos. Para tanto, instalam verdadeiros circos em estúdios de televisão, e vendem a idéia de que são os salvadores daqueles que pensam estar representando.

Essa foi apenas uma situação onde o diploma de jornalista poderia e deveria ser exigido, para nos poupar de tão deplorável manifestação televisiva. Mas para tristeza do nosso censo crítico e capacidade de percepção audiovisual, isso ainda não ocorre.
Para alguém que cursou faculdade é inadmissível pensar que qualquer um pode ser reconhecido como jornalista, já que os profissionais bem intencionados passam quatro anos ou 1.460 dias estudando para obter tal titularidade.

Além dos políticos, quer dizer, pessoas com boas intenções que visam o bem comum, há profissionais de outras áreas que também se aventuram na fina arte de transformar letras soltas ao vento, em algo passível de admiração e fonte de informação. São os sociólogos, psicólogos, antropólogos, economistas e cientistas políticos. Além de cantores, atores e escritores, entre tantos outros, possuidores de incrível imaginação e ausência de autocrítica.

Essa combinação costuma produzir a seguinte tese: eu sei falar bem, observo as coisas ao meu redor e consigo transformar isso em palavras, colocando umas vírgulas aqui, uns pontos ali. E acima de tudo, sei segurar microfone e olhar para a câmera, pois quando for jornalista serei muito famoso. É um caso a ser estudado por psicanalista, é lamentável que nem todos percebem isso. A circunstância relatada anteriormente é conhecida como déficit de atenção, sendo observada em crianças com menos de seis anos de idade.

Apesar de o Brasil ser um dos poucos países a reconhecer o portador de diploma do curso superior de comunicação social com habilitação específica, como jornalista autêntico, a conjuntura comunicacional da nação não é uma das melhores. Existem profissionais medíocres que permutam seu dever de informar somente a verdade e a veiculação de dados que favorecem terceiros, em detrimento do interesse público, por exemplo.

Desde 2001, tramita no Superior Tribunal de Justiça (STF), processo judicial onde o Ministério Público Federal (MPF) questiona a obrigatoriedade da exigência do diploma de jornalista para o livre exercício da profissão. O MPF baseia-se no artigo 5º da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão, além de não concordar que o Decreto-Lei 972 de 1969 seja aceito pela Constituição com força de lei. Estes argumentos foram repelidos pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e sindicatos de todo o país, que recorrem da decisão deferida em primeira instância, favorável ao MPF. Resta-nos aguardar pelo julgamento definitivo do STF. Enquanto isso, na República Federativa (Indecisa) do Brasil: jornalista, só com diploma.

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