quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vantangens em trabalhar no cemitério

Com mais de 105 anos de funcionamento, o Cemitério São João Batista é um local de mistérios e curiosidades que fascinam os trabalhadores.

Altimar Nascimento

MANAUS - Para alguns o cemitério é um lugar diferente onde os mortos repousam. Outros o consideram sombrio e amedrontador. Mas não é desta forma que os trabalhadores do Cemitério João Batista, localizado no bairro Boulevard Álvaro Maia, Zona Centro-Sul, enxergam o lugar. Para eles este é um emprego como outro qualquer.

O jardineiro, Jardesson Nunes (25), considera seu trabalho “uma atividade tão digna quanto outra função”. Entre suas obrigações estão incluídos a manutenção dos jardins e limpeza dos túmulos. Embora considere a função normal, Nunes comenta que nunca imaginou trabalhar no cemitério. “É diferente da visão que eu tinha, até agora não escutei nenhuma voz do além”, comentou.

Casado e com um filho para sustentar Jardesson Nunes não pensou duas vezes, aceitou o emprego. Para o jardineiro essa função chegou ao momento certo. “Eu acho que esse é um trabalho normal. Não acredito em espíritos, só em Deus”, confessou.

Zelador do ambiente há 22 anos, Raimundo Maurício (46), dedicou boa parte de sua vida ao cemitério. Maurício já limpou sepulturas e fez a poda das árvores. Um trabalhador “polivalente da manutenção”, como ele se define. Raimundo Maurício também diz que ainda não viu nada de sobrenatural. “Nunca vi não fantasmas os vigias que trabalham à noite dizem que já viram coisas diferentes”, revelou.

Antes de se acostumar ao trabalho no cemitério, o zelador era uma pessoa supersticiosa e, demorou algum tempo para se adaptar ao novo local de trabalho, no ano de 1987. “Eu chegava a casa e não dormia à noite. Passou um tempo para eu me costumar. Uns três ou quatro meses. Agora isso é coisa do passado”, contou.

Logística
O Cemitério São João Batista conta com dez funcionários, que fazem a manutenção diária. Além deles, segundo Lenai Couto França, do setor administrativo, existe ainda o pessoal terceirizado. A Prefeitura abre concessões de terra às famílias, em troca, elas cuidam da manutenção das sepulturas, capelas, jazigos e outros. “Existe outro tipo de terceirizado, que são os construtores. Eles trabalham com projetos, são cadastrados na Prefeitura, mas não são funcionários. À noite o cemitério conta com seis vigias”, explicou Lenai Couto.

Atualmente, a administração conta ainda com apoio dos guardas municipais, que três vezes, durante o dia, fazem patrulhamento. Antes disso, muita gente invadia o cemitério para fazer vandalismos. Hoje ainda ocorrem alguns casos, porém, os guardas inibem as ações. “Eles pulam o muro e vem fumar droga nas últimas quadras. Os guardas vêm e os levam para a delegacia”, informou.

rante o ano o cemitério passa por uma limpeza geral, com a manutenção própria e reforços de mais de 60 homens. Tudo em regime de mutirão, mas a falta de conscientização das pessoas que visitam o lugar ainda é um problema.

Só é sepultado no São João Batista quem tem jazigos de parentes ou pessoas próximas com concessões no cemitério. O custo para abrir uma sepultura é R$71,18 mais uma taxa de R$16,00. O pagamento é feito através dos Correios.

domingo, 3 de maio de 2009

Artesanato de Novo Airão recebe prêmio do Sebrae


O artesanato da Fundação Malaquias, de Novo Airão, conquistou o mundo e está entre as cem melhores do Brasil

Kessia Cristina Cabral Fonseca

NOVO AIRÃO (AM) - O artesanato de Novo Airão caiu no gosto do estrangeiro. O município já exporta produtos confeccionados manualmente para países como Suíça, França e Estados Unidos e já começa a colher o reconhecimento do trabalho. Recentemente a Fundação Almerinda Malaquias – uma espécie de escola de artesanato – conquistou o prêmio Sebrae Top 100, que premia as melhores produtoras de artesanato do território nacional. O troféu é motivo de orgulho entre os moradores.

De acordo com o presidente da Jean Daniel Vallotton o prêmio da Fundação foi por meio do projeto Nova Arte, que ensina os artesãos a trabalhar com os materiais disponíveis na natureza, transformando-os em produtos ‘tipo exportação’.

Exportação
O município é conhecido mundialmente pela produção e exportação de artesanato confeccionado a partir de resíduos de madeira das serrarias, estaleiros navais e de restos abandonadas pelos madeiros nos ramais espalhados na cidade. Os responsáveis pelo desenvolvimento econômico da região já vêem o artesanato como pólo econômico sustentável em Novo Airão.

“É um desafio encontrar alternativas de geração de renda para os 14.630 habitantes porque o município está localizado em uma área onde a política de uso de recursos naturais é restrita e regularmente fiscalizada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis). É preciso saber usar com responsabilidade nossa matéria-prima”, afirmou Vallotton.

Novo Airão possui área de preservação ambiental como Parque Nacional do Jaú, a Estação Ecológica de Anavilhanas, Parques Estaduais e a reserva indígena de Waimiri Atroari.

Educação
O sueco Daniel Vallotton está há 26 anos em Novo Airão. O trabalho dele a frente da Fundação Malaquias, segundo reforçou, é a busca de soluções econômicas, sócias e ambientas nas margens do Rio Negro, além de promover educação e programas de capacitação profissional com foco no empreendorismo.

Na Fundação são desenvolvidos programas como Ateliê das Crianças, Pro-Futuro e
Escola Silvestre, onde os participantes aprendem como produzir peças artesanais, sustentabilidade, postura adequada para cuidar do patrimônio natural, econômico e social, bem como os valores humanos e a relação do homem e a natureza.
A Nova Arte é a associação criada pela Fundação Malaquias. Ela é formada por 50 artesãos autônomos, todos formados nos programas de capacitação. O projeto recebe apoio da Fundação, que organiza vários cursos específicos para aperfeiçoar a qualidade e a produtividade dos artesãos.

Prêmio Top 100 do Sebrae
O prêmio tem como objetivo reconhecer e valorizar o trabalho realizado por artesãos de todo o País, selecionando as 100 unidades produtivas mais competitivas do Brasil. Estética, arte e cultura são importantes para a confecção de peças artesanais, porém, o que diferencia o Top 100 de Artesanato da maioria dos prêmios é o fato da avaliação ir além destes requisitos e levar em conta processos produtivos com foco no mercado. São avaliados 11 quesitos, entre eles, o grau de inovação dos produtos, adequação econômica dos produtos, adequação ergonômica dos postos de trabalho, adequação ambiental; a eficiência produtiva e adequação cultural.

Palacete Provincial custou R$ 6,5 mi

O investimento restaurou a memória histórica de Manaus

Kessia Cristina Cabral Fonseca

MANAUS - Todas as manhãs o cidadão amazonense que reside ou trabalha nas proximidades da Praça da Polícia, no Centro de Manaus, tem o privilégio de ouvir a banda da Policia Militar (PM) tocar a alvorada anunciando um novo dia e ver o corpo de agrupamento militar se preparar para erguer as bandeiras do Município, do Estado e da Nação. Tudo isso porque um investimento da ordem de R$ 5,6 milhões foi destinado à revitalização do antigo prédio onde funcionava o quartel general da PM, hoje transformado em Palacete Provincial.

A idealização, prevista no projeto Belle Epoque (reconstrução dos monumentos históricos da cidade de Manaus), foi uma iniciativa do governo do Estado, em parceria com a Prefeitura de Manaus. O resultado é uma vasta obra que afirma a identidade cultural do povo amazonense.
Com o Palacete Provincial, as Praças Roosevelt, Gonçalves Dias e Heliodoro Balbi, que compõem o complexo da Praça da Polícia, se tornaram mais que um atrativo turístico. O local se transformou em um cenário vivo de uma história contada por meio de objetos e materiais expostos. Eles remetem à memória cultural da sociedade amazonense.

No prédio estão diversas coleções de peças pertencentes ao acervo do Estado, com destaque para o Museu da Numismática (coleções de moedas) e o acervo do Museu da Imagem e do Som, composto por 450 peças entre vídeos, fotos, slides, CDs e DVDs, que contam a história do Amazonas e estarão à disposição para consulta dos usuários. Existe ainda o ateliê de restauro de obras de arte e de papel, réplicas das maiores esculturas do Mundo (adquiridas no Museu do Louvre, na França). A história da PM também é contada, o resgate histórico é feito com a exposição de roupas, armamentos e documentos da corporação, no Museu Tiradentes, que abriga ainda o Gabinete do Comandante.

O curioso é que o visitante pode ouvir os tiros disparados pelas armas expostas por meio de fones de ouvido, ou conhecer uma cela onde eram mantidos os prisioneiros, preservada em suas condições originais.

Uma viagem pelo Palácio Provincial

O Palacete foi construído em 1867 para ser sede do Tesouro Provinciano

Marinho Ramos

MANAUS - O antigo quartel da policia Militar do Estado do Amazonas está de “cara nova”. Construído em 1867 - quando o Amazonas ainda era uma Província - para ser a sede do Tesouro Provinciano, o prédio faz parte do complexo arquitetônico, que engloba o Colégio Dom Pedro II (Estadual). Localizado em frente Praças Heliodoro Balbi, Ruswelton e Gonçalves Dias, o local já foi sede de várias repartições pública, entre elas, o Liceu de Arte, Biblioteca Pública, Assembleia Provinciana, Escola Normal Superior e Comando da Polícia Militar por duas vezes.

A reforma teve início em 2005, e só foi reinaugurada em 25 de março de 2009. Hoje abriga três museus: o Tiradentes, o Numismática, e da Imagem e do Som (MISAM). A obra é parte do projeto de revitalização do patrimônio público, de iniciativa do governo do Estado.

Uma visita ao palácio é fazer uma viagem no tempo, onde o visitante pode conhecer das artes medievais a contemporânea, das histórias da humanidade do Brasil a do Amazonas. A recepção é feita por uma equipe de guias treinados para explicar qualquer indagação do visitante.

Ao entrar na Pinacoteca, de estilo contemporâneo, o primeiro contato que se tem é com o expressionismo realçado pelo tema principal: a luz. Logo na entrada, o visitante dá de frente com o quadro do último baile na Ilha Funchal (), em preto e branco. A obra é um pouco confuso porque as pessoas não estão muito nítidas, o que dá uma sensação de algo obscura. O artista expressa seus sentimentos na incerteza da passagem do quadro, que destaca a passagem política da Monarquia para a República. Aos poucos pelos corredores, o visitante entrando no mundo das artes.

No museu da Imagem e do Som um pouco da história de Silvino Santos, o pioneiro do cinema no Amazonas. O cineasta português chegou a Manaus ainda criança e é considerado um dos primeiros a trabalhar com a sétima arte no Brasil.
No museu Tiradentes o contato é com as histórias do Amazonas e da Policia Militar. É possível conhecer os armamentos usados na Guerra de Canudos, na Bahia.

O estudo das tribos indígenas que habitavam e habitam as regiões do Amazonas, também está disponível no museu da antropologia. O local mostra a cultura indígena com seus rituais fúnebres e suas urnas funerárias.
O passeio termina no Museu de Numismática, que possui um acervo de 18 mil moedas, das quais apenas oito mil estão expostas para o público por falta de espaço. Quem visita o local conhece a história das civilizações desde o ano 238 a.C. até o Contemporâneo.

Segundo informações da administração do museu, determinadas civilizações, como a grega, já usavam uma tecnologia avançada para fabricar suas moedas. O passeio pelo museu da Numismática encerra com a apresentação do Sistema Monetário Brasileiro, que vai do período Imperial ao atual Sistema Político Republicano.